jeudi, juin 01, 2006

quinta-feira de tardezinha nublado


E aí que eu me propus a vender ração de cachorro. Não qualquer ração, bem entendido. A melhor do mercado em todos os aspectos e sob todos os ângulos, tão boa que cura doença e só tem ingrediente que humanos podem comer. Humanos que não tenham prestado serviço para o filme Ilha das Flores, bem entendido.
Estou com o cérebro recheado de argumentos e sei até porque os gatos lambem o próprio pêlo. A lavagem – do cérebro, não do gato – foi bem elaborada, mas não a jato. Um dia inteiro.
Foi um dia médio.
Conheci gente de realidades particulares, perdi tempo, comi de graça, tava ruim e frio, fiquei com a bunda quadrada, garanti um emprego, mofei no metrô.
Ouvi, pela primeira vez, por exemplo, alguém me dirigir a frase “eu não posso comer carne porque a minha religião não permite”. Foi a menina que ficou minha “amiga” na chegada, quando estávamos atrasadas e perdidas. Uma “eu e tu” com tic-tac no cabelo, muito rímel e emprego em loja de esportes, que só come carne halal, a que respeita o corte muçulmano. Interessante.
Depois vi que tem gente que faz esse tipo de demonstração de produtos há 7 anos, um tempo interminável dado o coeficiente massante da função, e que outros que fazem isso têm mais de 40 anos, ou 50.
E que não era só eu que precisava de um papel pra pegar autorização de estrangeiro. Uma menina do Senegal e outra de Madagascar também. Dois lugares que eu tive que procurar bem rápido no cérebro e só achei a localização aproximada. E eu acho que a cicatriz no pulso da menina senegalesa era tribal, mesmo se ela estava embaixo de uma corrente dourada e um cabelo de cachos artificiais. Ela era de um preto bonito, bem mais bonito que o martinicano que pegou o mesmo trem que nós pra voltar.
Chegando em casa, com dor nas pernas e a cabeça meio inchada, me pus a lavar louça, que não teve aquele brilho ritual que a gente se inventa pra deixar a vida bonita.
E aí que me veio a frase que vai fazer a minha caveira quando eu for muito famosa e polêmica - uma Paula Francis - e alguém achar o link perdido deste blog. Ei-la: às vezes, a mágica não bate, o colorido não faz efeito, mesmo pessoas interessantes não salvam o dia. O fato é que ser classe média é chato. Às vezes.

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