mardi, janvier 22, 2008

Ginza

Sim, o metro quadrado mais caro do mundo. Um edifício inteiro só pra Burberry, outro pra Gucci, outro pra Dior.

Watch your mouth

Sou consciente de ter entrado no espaço aéreo japonês cometendo uma grande gafe. Embarquei com o nariz completamente congestionado e a garganta doendo, apostando numa gripe cavalar pros dias que se seguiriam e, mesmo assim, não privei nenhum dos meus colegas de avião do meu ar usado. Havia aprendido pouco antes de viajar que as máscaras cirúrgicas usadas aqui não servem para proteger as pessoas da poluição, mas sim dos vírus. Eu já sabia, não posso negar. Mas ainda não estava muito claro se era o doente que deveria se tapar ou o saudável. Pelo que aprendi na semana subseqüente, diria que são os dois, ou todos em volta.
A minha gripe não aconteceu, o que me deu um alívio estranho. Eis que, frio vai frio vem, uma das pessoas que mora comigo foi diagnosticada com influenza. Aqui, eles usam essa palavra pra fazer a tal diferença que nós não fazemos entre resfriado (aquela coisa boba) e gripe (a que te derruba).
No início do dia, cruzo com a moça pelo corredor, ela diz que acordou doente e tudo segue normal, cada uma vai trabalhar no seu horário mas, quando eu chego lá, cabum. É um daqueles filmes sobre o ébola, quando o ébola era risco para a humanidade. É aquela, diz um. E outra colega vem me abordar.
Tu mora com a fulana, não? Sim. Pois então, ela está com influenza. Ah, gripe. Pois é, ela disse que não se sentia bem hoje de manhã. Então, mandamos ela ao médico e depois para casa. Ela nem deveria ter vindo. Ahn. Tens que ter muito cuidado em casa. Usa a máscara, hein? Ahn. Não estás sentindo nada? Não-não. Não. Ok, usa a máscara (dedinho em riste).
E assim, antes que eu pudesse escolher, a máscara se tornou uma realidade - com outros comentários sobre a minha geografia virótica feitos no decorrer do dia. Voltei pra casa com um pacote delas na bolsa; abri a porta pra ver um ser mascarado convalescente; percebi na prática que bebericar qualquer coisa tapando o rosto é impossível.
Há algo no ar do qual estamos fugindo aqui. E é a mesma coisa que trocávamos no colégio, em refrigerantes, beijos e escorregadas pra cima do caderno alheio. Tanta confusão que esquecemos que sabemos o nome certo do vírus. É influenza, sempre foi, só que na nossa escala brasileira acabou como o ponto máximo de uma mesma coisa, um belo “gripão”.
Nas regras de convivência japonesas, no entanto, dizemos tintim por tintim da sintomatologia do outro, cuidamos dele com sopas e vitaminas, esperamos a febre passar. Em contrapartida, nos acusamos quando somos atingidos, tal qual um jogo de faroeste infantil. É simples, lógico e tão, mas tão mais eficaz para o comunitário que não calculo mais que duas semanas para eu parar de odiar a máscara.

mardi, janvier 15, 2008

Ei-me

Marte é habitado, e muito. E insistir em Marte é uma birra. Tóquio é menos assustadora do que parecia e, claro, tudo o que se pode dizer até agora sobre a inofensividade desta cidade-monstro não é mais do que o equilíbrio relâmpago de uma experiência pessoal.
Quando uma pessoa, uma casa e um trabalho te esperam a coisa fica um pouco menos Marco Pólo. Esse detalhe limpa angústias desnecessárias e viabiliza o que de outra forma não se daria. Eu moro num quarto com tatame. Numa casa que não é nem de perto uma gaveta. Eu caminho até a estação. No caminho, o que pode ser um bairro simples é um cenário. As portas são baixas e as pessoas também, na sua maioria.
É possível comprar shampoo e caminhar até o destino sozinha, tudo sem tatear o ar à procura de uma brecha para dentro de outra dimensão. Uma mudez atroz me persegue. Interlocutores falam e falam suas frases protocolares de serviço mas, até o momento, eu só dou sorrisos e inclinações de tronco, enquanto os gestos e as sacolas entregues me empurram pra fora e pra dentro de portas.
Eu li uma revista Elle que começava na última página. Vi o campeonato de sumô na tevê e os lutadores me parecerem jovens demais, umas criaturas ternas e ingênuas, engordadas. Comi seis peças de um sushi de esteira. Fiz o meu próprio chá verde. Nada, até agora, tem o gosto do que de japonês eu já provei fora daqui. Nem o shoyo.
De passeio após o trabalho, fui levada para conhecer Roppongi (o bairro) e Roppongi Hills (o edifício), do topo do qual se vê quase toda a cidade. Ledo engano a fluidez do elevador até o 52o andar. De lá sai-se desavisado para desabar numa visão absurda. Nunca um mar imenso foi tão detalhado. Nunca o concreto tão vivo. Tóquio é gigante, se mexe e cria forma a partir do nosso olho. Do dedo apontando da minha consorte, a mesma boa amiga que me inicia neste pedaço de mundo, pontes e elevadas se desenhavam a pedido, onde antes não me eram visíveis. Algo como a imagem abaixo. E dizer que no meio disso tudo mora um imperador.