lundi, janvier 09, 2006

Hermana helvética

Vamos “racontar”* aqui um pouco das minhas férias alpinas. Como a própria alusão à Suíça já arranca suspiros do tipo “hmm, que chiiiiique”, não vou me esforçar em montar o cenário pacato e familiar onde os meus Natal e Ano Novo se desenrolaram. As montanhas são a coisa mais linda que existe e sim, é um luxo tomar vinho feito pela gente do local.
Duas coisas interessantes que eu não tinha notado antes: 1) A altitude te deixa lerda. 2) A altitude te deixa bêbada no segundo copo – seja de cerveja ou de Martini. Ter isso em mente foi muito importante para entender as estranhas sensações que aquele tempo seco e frio me traziam. Cheguei pra ficar 4 dias, pois a prefeitura de Paris conseguiu marcar o meu exame médico pro dia 28, no vão em que NINGUÉM trabalha ou faz nada, muito menos os burocratas, o que me pareceu uma grande injustiça. Na véspera do exame, o liguei o “foda-se” e foi muito melhor assim.

*quem tem contato com famílias bilíngües já conhece esse asqueroso vício de traduzir palavras a marteladas e falar num dialeto tão feio quanto a linguagem internética dos adolescentes atuais.

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Minhas primas e tia moram na cidadezinha de Sion, no térreo do Canton du Valais. No sudoeste deste mapa:



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A minha lista de presentes de Natal inclui uma mini panelinha de fondue e – o melhor e mais esperado presente de todos os tempos – um canivete suíço. Que eu passei a oferecer a toda e qualquer pessoa que esboçasse dificuldade em cortar um papelzinho ou abrir uma embalagem.
Como já contei, eu e o foie gras passamos bons momentos juntos, alegrando-nos de ver que ainda estávamos lá no dia 25 ao meio-dia e também no 31.

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Na Suíça, o tempo se divide em pausas para cafés e pausas para lanchinhos. É comum sair para fazer compras, tomar um café antes pra se preparar, outro depois porque a corrida foi cansativa e, ao receber um telefonema, pegar o carro e ir sentar em outro bar pra repetir a rodinha em volta da mesa.


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Era tarefa da minha tia me entupir de roupas novas, tomar providências que eu nunca faria sozinha aqui (tipo pintar o cabelo e comprar um creme caro para as mãos), me dar comida e se certificar que eu estocasse calorias. Eu não gosto de recusar as coisas, então voltamos eu e a mochila bastante mais pesadas.

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Nesses dias lá eu fui no cinema ver Bombon, el Perro, li o livrinho da Beauvoir Les belles images (meio maravilhoso e final péssimo), vi American Beauty, About a boy, Almost Famous, Il est plus facile pour un chameau e GREASE na TV, este último me deixando decidida a um dia ter o corpo da Sandy Olsson e ir vestida assim pruma festa à fantasia:

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Uma das partes mais marcantes das minhas férias foi, claro, a convivência com a minha divertida prima Claudia Sabina Valente. Ela me faz lembrar pra que nós caçulas viemos ao mundo, o que não é pouca coisa.


Caçulas são sempre mais legais, claro.
Caçulas nunca perdem a rebeldia.
Caçulas são a graça da casa.
Mas são mais pentelhas também.
Adoram ser drama queens.
Acham que podem tudo porque são “sensíveis”.
Adoram fazer suas irmãs mais velhas parecerem desinteressantes, mesmo que o apartamento mobiliado não ajude a provar o contrário.
Amam e odeiam tanto a sua mãe que correm o risco de nunca sair de casa.

Ah, juro. No fundo acho que minha tia queria que eu colocasse ela nos trilhos, mas eu fiz mais é me perturbar com essa imagem de mim mesma antes da “maturidade”. Mas só com ela inventamos coisas inoubliables tipo comprar um pulôver de presente prum estranho que ela considerou “um namorado ideal” – e que não estava mais no café quando voltamos pra entregar.

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Faltando poucos dias pro Ano Novo, a Ângela, uma brasileira que mora lá e é atriz, me ofereceu um bico numa discoteca chique na montanha. Beleza. O chefe ia me buscar e me levar de volta. Trabalho duro, das 22h às 5h, dinheiro dependo das gorjetas. Clientes satisfeitos, pagamento gordo. Foram só três dias e a quantidade de francos suíços foi tanta que eu não tenho mais maneiras de dizer pra minha família que só o que eu fiz foi guardar casacos na chapelaria. Só o que eu posso dizer é: alta temporada, estação de esqui com lojas Prada e Chanel, filhos da máfia italiana em peso, hábito de não roubar muito valorizado entre os donos de discoteca. Acreditem em mim.

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