mercredi, novembre 09, 2005

Poittevin




Já fiz a macaquisse de incluir o meu nome francês no textinho para a Zero, escrito incialmente para o jornal de terça, e não de hoje. Na íntegra, ele era assim:

Tão longe, tão perto
Letícia González Poittevin
Paris

Pequena a ponto de poder ser atravessada a pé em apenas quatro horas, a Paris intramuros permanece tranqüila com o que ocorre ao seu redor, mesmo depois de 4.700 carros incendiados e da notícia de uma primeira morte possivelmente relacionada à revolta do subúrbio.
No metrô e nas calçadas, as discussões acaloradas sobre a violência que recrudesce nas banlieues, como são chamados os bairros periféricos, mostram que o pânico está longe de ser instaurado.
- Não acho que tenhamos grandes problemas no centro da cidade porque essas pessoas não se arriscam a atacar bairros que não conhecem – afirma o dono de uma banca de jornais da Boulervard Saint-Michel, na rive gauche do rio Sena. Morador de um bairro ao norte de Paris por 17 anos, ele se mostra simpático ao ministro do interior Nicolas Sarkozy, que tem causado polêmica usando termos como “faxina” quando se refere às medidas tomadas para controlar a crise.
Os clientes do jornaleiro, entretanto, reagem à simples menção da crise, não se importando em trocar farpas por 15 minutos com pessoas que nunca conheceram.
- Não podemos exagerar nem permitir que o ministro use esse tipo de termo – defende uma estudante de relações internacionais, ali para comprar uma revista Elle.
- É a guerra civil. Assim como Luis XVI, o governo não conhece a situação do seu país. Agora, é tarde demais – profetiza um funcionário de um cinema, que se diz um pacifista.
Entre os motivos, o cenário de uma urbanização excludente e da falta de emprego, criado em trinta anos de levas migratórias vindas de ex-colônias francesas, parece não justificar a rebeldia desses jovens sem perspectiva. Nos corredores da Sorbonne, muitos universitários classificam as ações do subúrbio como “violência gratuita”.
O jornal Le Monde, que nesta segunda-feira inaugurava o seu novo projeto gráfico, tinha ontem mais um bom motivo para lotar as ruas de vendedores ambulantes. No seu interior, uma reportagem acompanhava uma noite junto a um grupo de “incendiários”, dando voz aos protagonistas das barricadas. “É como um cão contra um muro, ele se torna agressivo. Não somos cães, mas reagimos como animais”, diz um dos sete jovens que depõe na reportagem, todos com nomes muçulmanos. Além da raiva por não receberem do governo estruturas de lazer enquanto a polícia tem reforços constantes de equipamentos, eles reclamam da falta de perspectivas. “O que quer eu faça? De cem currículos que enviei, consegui três entrevistas” diz um deles.
Acusadas de insulflar esses movimentos com uma cobertura ofensiva, a mídia e a imprensa parecem garantir que o assunto não saia da boca dos parisienses. E no ainda distante subúrbio, os carros incendiados, todos cobertos por seguro obrigatório, seguem sendo o grito de expressão.

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