vendredi, août 19, 2005

Só o Neil Young é certo


Tem tempo que eu penso na certeza que a gente precisa pra levantar da cama. E em como só se vive de preto e branco. Nem que seja uma vez por dia. Só a oposição salva. Isso é meio triste, que ninguém consiga respeitar e falar ao mesmo tempo.
Os olhares perdidos que se instalam na nossa cara, antes de serem espantados sem um pensamento que seja, são só a única maneira de ser relativo. De admitir que não se tem certeza do que se está falando, da vida que se está vivendo. Que o mundo realmente não deu nenhuma resposta satisfatória. E poxa, não dá pra ficar assim muito tempo, por mais que seja uma atitude sincera. Nada permite. O trabalho precisa de teses, os amigos precisam uma identidade pra jogar referências e dicas.
E essa segurança que se ganha pra poder ganhar o mundo vai e vem, mais forte algumas vezes, mas sempre coçando pra avisar que ela não é real, só uma base de operação. Sempre foi bom ter épocas em que os inimigos estavam bem definidos.(Os inimigos típicos, eu digo, porque nunca tive ódios verdadeiros na vida). Que alívio poder chutar, cuspir e se apavorar com a vida dos outros. Dar toda a volta, da proximidade à pena, montando os pés naquilo que está fora pra poder criar afirmações próprias e respirar tranqüila.
Ter um nome pelo qual ser chamada. Saber os bons. Os ruins. Os perturbados. Os que nunca entenderão o que eu penso. Os que são gente da minha gente. Os que conhecem o que me ofende. Todo mundo precisa disso. Todo mundo dá um jeito de ter isso. Nem que seja através de um coment num site de alguém perdido em outro continente.
E às vezes eu me pego com essa dúvida. Pensando na cara que os imperadores romanos faziam bem quando sentiam a faca dos seus companheiros fiéis lhes esfriando a carne. Juro que penso. Mais de uma vez. Um rosto de susto. De que nada valeu a pena. Sei lá. Traição é uma maneira de colocar, mas a preocupação é basicamente sobre certezas. Sobre estar enganado. Sobre ficar completamente perdido ao sentir essas coisas básicas balançarem.
Por exemplo. Quando eu era pequena, eu ficava pensando, só trabalhando na hipótese de todos da minha família (um pai, uma mãe e uma irmã maior) se virarem pra mim um dia, tirarem lentamente as máscaras de gente e mostrarem que eram lobos. Falando assim parece que eu tinha medo ou que era maltratada, ou que nunca aprendi a amar. Nada disso. Só tinha, vez em quando, essa dúvida sincera. Da mesma forma como não consigo me catalogar o suficiente no momento pra explicar o porquê de falar tudo isto neste espaço. De contar a história dos lobos para uma tela (confesso que pensei que, ficando ela no final do texto, estaria protegida pela paciência necessária para chegar até aqui).

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