Não são as novas diretrizes sarkosianas as coisas mais divertidas de ver na política imigratória francesa. São as artimanhas que escapam da política no sentido legislador; os detalhes espalhados que se harmonizam num mesmo sentido, fazendo uma força ampla, nos empurrando pra usar palavras abertas, como sistema e cultura.
Pois bem. Lettre de motivation. Carta de motivação. Inventada de francês para francês, ela valida, no momento da busca de emprego, as 6 mil horas de aulas de redação que os nativos tiveram ao longo da jornada escolar.
Não serve para nada, se não para cumprir uma formalidade e – mais importante que isso – avaliar a lealdade e a adaptação do candidato ao cumprimento de formalidades. A grande sacada em relação aos estrangeiros é que ela mata o sujeito pela preguiça. Vindos de outros países, cada um já traz consigo uma lista de desvios de mérito com as quais aprendeu a lidar (no nosso caso, indicação, puxa-saquismo, cantada hierárquica, filhismo, etc), que já é inchada o suficiente. Com isso, quem tem vontade de aprender a escrever uma carta que ninguém vai ler, mas só bater os olhos pra ver se o numero de parágrafos confere e as expressões iniciais e finais estão adequadas?
Cada qual com os seus “c’est comme ça”. É tão mais fácil optar pelas outras alternativas: casar com francês (o que exige esforço mas, uma vez conseguido, ninguém pode desmerecer o feito), se contentar com subemprego (o que tem um limite) ou voltar pra terrinha. Very clever.