samedi, mars 11, 2006

My bloody valentines

Quando a gente olha pro lado côncavo de uma colher o nosso reflexo fica de ponta cabeça. Mas quando a gente olha pro lado convexo, ele fica normal. Além disso, o sol pode estar tanto do lado onde a gente enxerga a bola brilhante quanto do lado onde a luz chega e tudo fica iluminado.
Quem falou a primeira frase foi a Alice, 7 anos, numa das quartas-feiras em que a gente fica juntas, e a segunda foi observação do Dionisio, 3, na grama que vai da escola até o teatro. Todos os dias é assim. A vontade de matar eles quando eu não tenho autoridade intercala com essas coisas ótimas. Eu ganho beijos de graça, brinco de jogar bolas de neve nos carros, conheço todos os personagens do Rei Babar.
Outro dia, eu só podia responder as perguntas com “exactement” ou “pas du tout”. “Sim” e “não” estavam proibidos. E o balão até que podia encostar no chão se a gente deixasse cair, desde que ele continuasse sempre se mexendo. Quando chega na página da rainha Úrsula e do rei Cyprien do país das aves, a gente diz que o da direita é a rainha e o da esquerda é o rei, mesmo se no livro estiver dizendo contrário.
E por isso a miséria do salário é bobagem. Eu aprendi a dizer “pepino” com uma loirinha adorável que ia descrevendo o bendito legume, e toda vez que eu chego na escolinha, às 17h, tem alguém que quase me arranca no nariz fora só pra conferir se o piercing continua lá.

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