Recebi notícias de 2008 há pouco, de lá onde ele já começou. Parece que este ano vai ser bem divertido e o número da aposta é uma dezena: 81.
lundi, décembre 31, 2007
Orelha de macaco
Já é sabido e bem comentado que os franceses consomem mais livros por mês do que nós brasileiros. A Gibert Joseph é uma livraria em rede que concentra boa parte do que se pode comprar em Paris no quesito papel. O fato é que toda vez que entrava lá com um título em mente, acabava sentindo um certo incômodo ao ver aquele mar de pocket books espalhados por mesas largas. É uma imensidão de livros pequenos com capas supercoloridas estampando fotos de pessoas e cachorros, traduções do espanhol, traduções do inglês, autores que surgiram há um ano, novidades da rentrée litteraire.
É engraçado, mas meu incômodo vinha da constatação que o mercado literário lá se apresenta ao consumidor um pouco como o mercado de filmes em DVD se apresenta no Brasil. Pessoas compram livros cujo destino é o consumo. Seguem, para isso, o desejo instigado por resenhas, entrevistas, orelhas de livros, indicações de amigos. Pagam relativamente pouco, levam produtos leves e pequenos e, chegando em casa, lêem.
Em algum canto do cérebro isso deve ter me parecido uma calúnia ao santificado todo-poderoso louvável hábito de leitura como ele me foi inculcado em terras brasileiras. Foram anos de anos de “leia mais, o que quer que seja, por favor leia mais e sinta-se um cidadão honorável abrindo um livro em praça pública, nunca comente o que leu, simplesmente diga que lê, que adora ler, que deixa de ver tevê pra ler” que, de alguma forma, tiveram efeito.
A ficha desse pensamento me caiu no mês passado quando, de volta a Porto Alegre, fui à belíssima livraria Cultura. O apelo foi forte, mas bem diferente das montanhas baratas da Gibert Joseph. Os atendentes simpáticos me ajudavam com um sorriso de almas gêmeas, a Cultura naquela arquitetura linda me dava vontade de passar de um setor a outro rodopiando a saia e os livros, eles me pareciam mais elegantes que as roupas nas vitrines do Bourbon Country.
O que eu vou dizer não é novo. Todo mundo sabe que pagar mais de 50 reais por uma edição bonita do Grande Sertão Veredas tem a ver com a estante. Mas ali, olhando os livros que faziam parte da minha lista ainda em aberto, vi como é gritante a diferença entre orelhas feitas por leitores e as feitas por críticos literários. Tentei levar algo da Hilda Hist mas, entre o primeiro livro da prosa pornográfica dela e o início do romance bifurcado – estou inventando os jargões porque não chego a lembrar deles -, não consegui escolher nenhum. Só porque amo o João Gilberto Noll, não recuei diante do “romance de deformação” em oposição ao Bildungsroman que vem a ser O Quieto Animal da Esquina.
Abri mais e mais livros, cada um com a capa mais linda e mais abstrata que o outro, sendo apresentados dentro do panorama literário brasileiro, em contraste ao novo romance velho, fazendo parte de uma trilogia intercalada, prometendo mudar tudo, nossa, que promessa. Nada, enfim, falava do que há pra ler depois da capa. Só o que eu via era que, se quisesse comentar algum deles, teria que rezar pra ser convidada a jantar na casa de algum professor da pós-graduação da UFRGS.
O comprador de livros da Cultura tem que ser, resumindo, um esnobe humilde. Tem que aceitar levar pra casa o que as sumidades indicam mas não explicam e balançar, o mais charmoso que conseguir, a sua sacola até o estacionamento.
É engraçado, mas meu incômodo vinha da constatação que o mercado literário lá se apresenta ao consumidor um pouco como o mercado de filmes em DVD se apresenta no Brasil. Pessoas compram livros cujo destino é o consumo. Seguem, para isso, o desejo instigado por resenhas, entrevistas, orelhas de livros, indicações de amigos. Pagam relativamente pouco, levam produtos leves e pequenos e, chegando em casa, lêem.
Em algum canto do cérebro isso deve ter me parecido uma calúnia ao santificado todo-poderoso louvável hábito de leitura como ele me foi inculcado em terras brasileiras. Foram anos de anos de “leia mais, o que quer que seja, por favor leia mais e sinta-se um cidadão honorável abrindo um livro em praça pública, nunca comente o que leu, simplesmente diga que lê, que adora ler, que deixa de ver tevê pra ler” que, de alguma forma, tiveram efeito.
A ficha desse pensamento me caiu no mês passado quando, de volta a Porto Alegre, fui à belíssima livraria Cultura. O apelo foi forte, mas bem diferente das montanhas baratas da Gibert Joseph. Os atendentes simpáticos me ajudavam com um sorriso de almas gêmeas, a Cultura naquela arquitetura linda me dava vontade de passar de um setor a outro rodopiando a saia e os livros, eles me pareciam mais elegantes que as roupas nas vitrines do Bourbon Country.
O que eu vou dizer não é novo. Todo mundo sabe que pagar mais de 50 reais por uma edição bonita do Grande Sertão Veredas tem a ver com a estante. Mas ali, olhando os livros que faziam parte da minha lista ainda em aberto, vi como é gritante a diferença entre orelhas feitas por leitores e as feitas por críticos literários. Tentei levar algo da Hilda Hist mas, entre o primeiro livro da prosa pornográfica dela e o início do romance bifurcado – estou inventando os jargões porque não chego a lembrar deles -, não consegui escolher nenhum. Só porque amo o João Gilberto Noll, não recuei diante do “romance de deformação” em oposição ao Bildungsroman que vem a ser O Quieto Animal da Esquina.
Abri mais e mais livros, cada um com a capa mais linda e mais abstrata que o outro, sendo apresentados dentro do panorama literário brasileiro, em contraste ao novo romance velho, fazendo parte de uma trilogia intercalada, prometendo mudar tudo, nossa, que promessa. Nada, enfim, falava do que há pra ler depois da capa. Só o que eu via era que, se quisesse comentar algum deles, teria que rezar pra ser convidada a jantar na casa de algum professor da pós-graduação da UFRGS.
O comprador de livros da Cultura tem que ser, resumindo, um esnobe humilde. Tem que aceitar levar pra casa o que as sumidades indicam mas não explicam e balançar, o mais charmoso que conseguir, a sua sacola até o estacionamento.
jeudi, décembre 27, 2007
Lixo
"O silêncio no local onde a menina era velada ontem traduzia a dor da família para a qual o Natal perdeu o sentido". Fim do texto.
É por isso, na minha opinião, que o Correio do Povo não deveria ter sido vendido pra Igreja Universal.
É por isso, na minha opinião, que o Correio do Povo não deveria ter sido vendido pra Igreja Universal.
mardi, décembre 18, 2007
Notícias do outro lado do charco, vistas de dentro
O Uruguai prendeu um dos seus ditadores ontem, o Gregorio "Goyo" Alvarez (1981-1985), junto a dois outros militares. Esta que segue é uma visão local.
Queridos todos: espero que se encuentren muy bien.
Tal vez haya llegado a POA la noticia de que el Goyo Alvarez está en cana, junto con los demás represores.
Ayer habíamos quedado de encontrarnos en casa con mis compañeras de trabajo y abrimos una botellita de champán para festejar por la justicia.
Pueden creeer que hace como 2 semanas venía caminando por Ricaldoni y me lo cruzo. Iba de lo más campante a tirar la basura a la volqueta. Nadie asediándolo, sin guardaespaldas, nadie haciéndole escrache...pero le llegó la hora, salió en la tv la foto de fichado de frente y perfil con el nº.
La radio que escuchamos en casa, pasó el procesamiento como si fuera un comunicado de las fuerzas armadas de esa época con la musiquita (se acuerdan ¿no? Anita y Lê prenguntenle a vuestros padres). Dieron incluso el alias "Goyo" y "Petiso".
La gente se juntó en la Plaza Libertad y cantaron murgas, cantantes populares, etc. En fin esto recién empieza.
El Frente votó en su congreso apoyar la juntada de firmas para derogar la ley de caducidad. Se va a llegar así que van a haber más procesamientos y todo bajo la égida de la justicia, no bajo tribunales militares.
El asunto fue que el bocón admitió verbalmente y firmó un documento en 1979 que él se hacía responsable por eventuales desbordes de su mando (los desbordes que pudieron probarse hasta ahora fueron 40 desaparecidos). Dijo que era mejor morir de espaldas y no de rodillas y que si lo mandaban en cana iba a decir la verdad, y hasta ahora que estuvo haciendo, diciendo mentiras?. Es insólito...
Besitos para todos,
Queridos todos: espero que se encuentren muy bien.
Tal vez haya llegado a POA la noticia de que el Goyo Alvarez está en cana, junto con los demás represores.
Ayer habíamos quedado de encontrarnos en casa con mis compañeras de trabajo y abrimos una botellita de champán para festejar por la justicia.
Pueden creeer que hace como 2 semanas venía caminando por Ricaldoni y me lo cruzo. Iba de lo más campante a tirar la basura a la volqueta. Nadie asediándolo, sin guardaespaldas, nadie haciéndole escrache...pero le llegó la hora, salió en la tv la foto de fichado de frente y perfil con el nº.
La radio que escuchamos en casa, pasó el procesamiento como si fuera un comunicado de las fuerzas armadas de esa época con la musiquita (se acuerdan ¿no? Anita y Lê prenguntenle a vuestros padres). Dieron incluso el alias "Goyo" y "Petiso".
La gente se juntó en la Plaza Libertad y cantaron murgas, cantantes populares, etc. En fin esto recién empieza.
El Frente votó en su congreso apoyar la juntada de firmas para derogar la ley de caducidad. Se va a llegar así que van a haber más procesamientos y todo bajo la égida de la justicia, no bajo tribunales militares.
El asunto fue que el bocón admitió verbalmente y firmó un documento en 1979 que él se hacía responsable por eventuales desbordes de su mando (los desbordes que pudieron probarse hasta ahora fueron 40 desaparecidos). Dijo que era mejor morir de espaldas y no de rodillas y que si lo mandaban en cana iba a decir la verdad, y hasta ahora que estuvo haciendo, diciendo mentiras?. Es insólito...
Besitos para todos,
Non de dieu!
mercredi, décembre 05, 2007
Pensando em Dionisio
Ele ficou sabendo hoje que vai ter um irmão. Ele precisava dormir; antes das 21h, de preferência. Mas ele ainda morava longe dos salários-hora e tempos de metrô. Eu o apertei do mesmo jeito que apertei um corpo crescido no fim de semana, em volta da barriga, mas mesmo assim ele não dormiu.
Aqueles olhos vidrados no teto, com um suspiro de tempo em tempo para provar que tentava exorcizar a insônia, me deixavam com um ar ridículo. Eu estava fazendo a conta de quanto os pais teriam que me pagar a mais pelo atraso fisiológico e pensando na sola do meu pé quando eu ganhasse o caminho de casa com o sapato mal escolhido desta manhã.
Ele estava chupando cada vez mais forte a chupeta e quase arrancando uma mecha dos meus cabelos. Ele estava pensando naquilo. Como um divorciado de 40 anos. Uma mãe que acaba de perder o namorado para a filha. Ou uma criança de três anos que descobre que vai ser irmão. Ele fechava, mas os olhos não eram tão ingênuos. Um dia, uma noite, uma hora, uma véspera de trabalho. Só ele tinha a real dimensão da vida naquele momento mas o meu trabalho era inculcar um calendário por cima da sua lucidez.
Aqueles olhos vidrados no teto, com um suspiro de tempo em tempo para provar que tentava exorcizar a insônia, me deixavam com um ar ridículo. Eu estava fazendo a conta de quanto os pais teriam que me pagar a mais pelo atraso fisiológico e pensando na sola do meu pé quando eu ganhasse o caminho de casa com o sapato mal escolhido desta manhã.
Ele estava chupando cada vez mais forte a chupeta e quase arrancando uma mecha dos meus cabelos. Ele estava pensando naquilo. Como um divorciado de 40 anos. Uma mãe que acaba de perder o namorado para a filha. Ou uma criança de três anos que descobre que vai ser irmão. Ele fechava, mas os olhos não eram tão ingênuos. Um dia, uma noite, uma hora, uma véspera de trabalho. Só ele tinha a real dimensão da vida naquele momento mas o meu trabalho era inculcar um calendário por cima da sua lucidez.
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