samedi, mai 26, 2007

mercredi, mai 23, 2007

nota

E quando eu penso que não temos nada a ver, a Catherine Deneuve diz que adora Beth Gibbons.

dimanche, mai 20, 2007

___________16.maio.2007

Minha tia Sara morreu. Da última vez em que a vi, só fiz suposições. Cheguei a supor que a nossa visita a incomodava. Que ela se sentiria mais cômoda em companhia da senhora encarregada de cuidar dela. Eu quis muito passar a mão no rosto dela quando soube, hoje de manhã, que ela dormira sem acordar.
Uma morte tão calminha. Meu pai disse “não sofrida”, no email em que me enviou. Eu aqui perdida pelo fuso horário me perguntei se era uma sesta ou o sono da noite. E me lembrei do quão sofrida foi a morte da mãe do meu pai.
Sem que isso a reduza a um afeto secundário, Tia Sara é parte de um binômio. A outra parte é Vó Célia, morta há 13 anos. Separadas por mais de dez anos dentro de uma escala de quinze filhos, elas poderiam ter sido apenas um par de irmãs. Duas viúvas, mães de dois filhos únicos. Vó Célia era mais orgulhosa, mas era Tia Sara quem ganhara a pior nora. Um equilíbrio randômico.
O grande truque desta notícia é ter me feito pensar em constância, ao invés de liberdade. A morte dela, que é também o fim do binômio, não me ensinou a fazer o que eu bem entender a partir deste instante, por que a vida é curta (a vida é longa, os motivos são outros).
Existia uma coisa na Tia Sara que a fez dizer um piada no meio daquela confusão de rostos. Ela estava tão perdida, e perdidos nós também, sem saber se a frase ia terminar ou se ela queria mudar de posição. E, mesmo assim, ela fez, quando conseguiu se expressar, uma tirada cômica. E todos nós pescamos aquele fio jogado do fundo da névoa dela, e respiramos, para além do nosso alívio, pra dizer sem dizer “nós te reconhecemos”.
Com mais de dez anos de diferença (os que separam as mortes, não os nascimentos), minha vó jogava um fio parecido, do meio da dor intransigente. E quando ela retrucava um médico descuidado e era firme mesmo tremendo, nós a reconhecíamos, até o último dia, em que eu fui embora do hospital e ela também.
Elas tinham rostos muito diferentes, mas mãos idênticas. E jogavam baralho durante um verão inteiro em Garopaba. E gostavam de comer churrasco de ovelha, e escreviam cartas uma pra outra em letras corridas e bonitas. E faziam tantas outras coisas pontuais, momentâneas, que no entanto ecoam na minha cabeça me obrigando a empregar o imperfeito.
Eu gostaria de encostar na mão dela. Principalmente porque os dedos tinham a geminha marcada, como se tivessem ficado presos por um prendedor de roupa. E eram quentinhos, sempre quentinhos. Ela estava à beira de perder a constância. E perdeu.

vendredi, mai 11, 2007

No need for tatoos

Tenho lido sobre o Brasil. Livros que já tinha começado antes, sem muito equilíbrio neuronal para com eles lidar. Tenho encontrado idéias ótimas, mesmo que “encontrar” seja um pouco deslocado pra citar obras de base lidas à meia idade.
Um exemplo de idéia surpreendente, da qual apresento aqui apenas a ilustração, é a importância da sífilis - na época da colônia - na formação do brasileiro:

“O filho do senhor de engenho se contaminava, quase brincando, com as negras e mulatas, ao perder precocemente sua virgindade, aos 12 ou 13 anos. Pois, a essa idade, ele já era um homem. Era ridicularizado se ainda não tivesse conhecido as mulheres; ironizado se não carregasse no corpo traços da sífilis. Martius [viajante do início do séc. 19] nota que o brasileiro porta com ostentação as cicatrizes da sífilis como se fossem cicatrizes de guerra”.