Ele ficou sabendo hoje que vai ter um irmão. Ele precisava dormir; antes das 21h, de preferência. Mas ele ainda morava longe dos salários-hora e tempos de metrô. Eu o apertei do mesmo jeito que apertei um corpo crescido no fim de semana, em volta da barriga, mas mesmo assim ele não dormiu.
Aqueles olhos vidrados no teto, com um suspiro de tempo em tempo para provar que tentava exorcizar a insônia, me deixavam com um ar ridículo. Eu estava fazendo a conta de quanto os pais teriam que me pagar a mais pelo atraso fisiológico e pensando na sola do meu pé quando eu ganhasse o caminho de casa com o sapato mal escolhido desta manhã.
Ele estava chupando cada vez mais forte a chupeta e quase arrancando uma mecha dos meus cabelos. Ele estava pensando naquilo. Como um divorciado de 40 anos. Uma mãe que acaba de perder o namorado para a filha. Ou uma criança de três anos que descobre que vai ser irmão. Ele fechava, mas os olhos não eram tão ingênuos. Um dia, uma noite, uma hora, uma véspera de trabalho. Só ele tinha a real dimensão da vida naquele momento mas o meu trabalho era inculcar um calendário por cima da sua lucidez.
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