Uma das primeiras coisas que mudam quando muda o entorno é o tipo de violência que habita os nossos fantasmas. Bolsa virada para frente aqui é estilo, andar apressado é pressa mesmo. Em compensação, tem infanticídio, fratricídio, matricídio e, claro, muito suicídio.
Nas minhas primeiras semanas, dois casos de meninos que mataram a mãe estavam sendo investigados. Um deles cortou a barriga da sua e colocou um boneco de plástico dentro. Na semana passada, os funcionários de um hotel encontraram uma família toda morta num quarto, muito provavelmente por obra do pai suicida. A lista desses casos de encher página policial é bem recheada.
Por essas peculiaridades, ser estrangeiro é quase uma garantia anti-morte violenta aqui (um antônimo dos turistas fáceis de Copabana). Sendo uma alienígena saudosa de pai e mãe, me sobram os fantasmas das outras agressões. Os ladrões de calcinha, por exemplo. Não devo pendurar as minhas na sacada, me ensinaram. Correm o risco de, na calada da noite, virarem alvo de alguns poucos obcecados que farejam os varais alheios em busca desses poucos panos.
Um desses tipos, num caso noticiado Japão afora, foi encontrado com mais de mil calcinhas na sua casa. Questionado pela coleção, foi franco: “As tinha para satisfazer o meu desejo sexual”.
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