lundi, août 20, 2007
Menina a caminho (ou A hipótese de se envelhecer em números)
Cada vez que um pote de iogurte termina eu penso se escolhi a profissão certa. Se escolhi a vida certa. Eu tenho 23 anos e moro num país estrangeiro. Mas cheguei com malas minhas, sem pisar em terra virgem nem temer pelo futuro, porque eu simplesmente cheguei nesse meu estado de vida, que eu pretendo narrar aqui, que é mole como um cetim, que não mexe montanhas mesmo que mude uma vida inteira, que é invariavelmente leve.
De onde eu venho não há histórias cicatrizadas, mortos que eu tenha matado. E todas as pessoas que me formam pensam que eu deveria estar aqui, o que me traz a esta situação onde não há como fingir que o me ocorre é trágico, apesar de ser o que de mais grave me ocorre.
Eu não me mexo muito rapidamente, e quando o faço não é senão por deliberada proposta. Não há em mim, como os filmes mostram existir em outras pessoas, um tempo e uma urgência ligados à ação, chegada mesmo quando não é chamada, criando rotinas invisíveis e ciclos que aparecem depois de anos, em uma mesa onde se toma um chá com velhos conhecidos.
A vida a mim custa ser vivida, e não é porque ela me entristeça.
Ela apenas me custa.
Preciso muito das pessoas para me guiar nas quantidades de sono e desespero que são usuais no meu entorno. Eu procuro sempre, com isso, não destoar. Na maioria das vezes, consigo, apesar de ter de continuar me procurando em outros lugares, já que vivo uma vida de imitação.
Desde que cheguei neste país estrangeiro, estou esperando que a vida comece a sua marcha íngrime, porque eu ainda não me desfiz de crer que exista uma marcha. Eu, até agora, só conheci planos e começos. Nutro uma sincera curiosidade por meios e finais.
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1 commentaire:
Lê! Tenho saudades! Eu sei que isso nem parece verdade, já que eu costumo ficar períodos grandes sem dar notícias, telefonar, aparecer, mandar email, mas é um fato. Às vezes, do nada, me pergunto como é que tu anda, o que tem feito, se vem ao Brasil... Acho que estar de volta nessa Brasília tão artificial, tão sem raízes e com tão poucas referências me deixa ainda um pouco mais nostálgica. Pensar nas pessoas e nas coisas que eu deixei pra traz, agora com esse jeito de coisa definitiva de gente que não vai mais ter endereço fixo, país fixo, cidade fixa, me faz querer, de repente, resgatar tudo, levar tudo comigo pra onde quer que eu vá. Por isso apareci aqui. Pra te dar um beijo, saber de ti, fazer planos de ir a Paris em janeiro... Tu fica por aí? Vai à Porto Alegre? Alguma chance de a gente se encontrar? Manda email.Beijo enorme, Rita.
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