Numa parte do filme Derrida (Kirby Dick, Amy Ziering Kofman, 2003), ele está sentado num estúdio de TV, nos EUA, e a jornalista começa a entrevista pedindo um comentário sobre Seinfield. Quando ele aperta os olhinhos pra mostrar que nunca ouviu falar disso, ela insinua que, com muita paródia, ao igualar dilemas sobre armários e fé em Deus, o seriado teria algo a ver com a teoria da desconstrução.
– Se você está me pedindo uma dica para as pessoas que assistem sitcoms, eu diria “façam seus deveres de casa, leiam os livros”. Aí falaremos de desconstrução.
Esse é o ponto mais besta do filme, o mais óbvio exemplo da complexa tarefa de falar – discursar – e ser apreendido pelo outro. O clichê americano serve, comme toujours, de maneira didática.
Esse é o ponto mais besta do filme, o mais óbvio exemplo da complexa tarefa de falar – discursar – e ser apreendido pelo outro. O clichê americano serve, comme toujours, de maneira didática.
Enquanto isso, ele segue Derrida frente às outras perguntas do filme, frente aos diretores, frente a um projeto de documentário que ele aceitou e do qual não se arrepende. “Não posso responder a isso em frente a uma câmera”, “Eu não sou realmente assim. Para começar, se fico em casa, não me visto como agora, fico com o meu pijama”. “O que você vai fazer com tudo isso? Fazem 5 anos que estou falando. O que você vai guardar? A sua autobiografia”.
Nenhum desses questionamentos invalida o filme, mas serve para mostrar o seu sujeito. Judeu argelino formado na França, figura da filosofia pós-estruturalista, Jacques se considerava um sobrevivente da geração de 60 (Althusser, Bourdieu, Foucault, Deleuze e Lacan morreram bem antes que ele, que faleceu em 2004).
Viajante do mundo dos textos, sempre se propôs a tecer textos dentro de outros, mostrar discursos dissimulados, destituir e restituir sentido. A briga dele (diálogo sem concessão é mais polido) era com a metafísica ocidental e os seus “conceitos fundamentais”.
Mesmo no centro do pensamento pós-moderno, Derrida não aparece como um iconoclasta, um niilista. Ele não acha que tudo é espetáculo, não esqueceu completamente da política e não concorda com qualquer interpretação que possa ser feita sobre sua fala.
Diz que gostaria de saber sobre a vida sexual de Heidegger, mas avisa que não responde sobre a sua. Não conta mais do que datas sobre a sua história com Marguerite Derrida (esposa), mas diz que já falou bastante sobre si mesmo em textos, mesmo que não explicitamente. “Cada um dissimula de um jeito, diz. Mas o meu é diferente”.
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