Não é a primeira vez que me acontece. Eu sento numa aula. No caso, uma aula proferida pela vice-presidente da associação de sociólogos de língua francesa, detalhe que eu não sabia no momento da inscrição, evidentemente. Eu sento e começo a escutar aquela aula bem estruturada, com os tópicos perfeitamente entrelaçados uns nos outros.
A fala decorre, citando todo tipo de gente que já escreveu sobre a vírgula em questão. A dona da fala faz uma pausa a cada citação, pergunta na sala quem já leu este autor, esta obra, se espanta com a ausência de mãos levantadas. Prossegue um pouco contrariada mas também um pouco confiante, porque, ela, ao menos, já leu toda essa gente e ela, ao menos, é a que está no banco do professor e ela, ao menos, pode tentar, ao longo do semestre, nos tirar do limbo ignorante em que nos encontramos com as suas 20 ou 25 indicações de obras básicas por aula.
Eu sigo sentada e me apavoro. E me afundo na tendinite anotando todo e qualquer suspiro - por precaução -, para decidir depois quais serão as obras básicas que enternecerão meus olhos. É frustrante, mas, mesmo depois de um ano, eu ainda erro a ortografia dos nomes que escuto, o que me garante embaraços tênues em frente ao buscador da biblioteca - fato que a tecnologia me permite esconder dos outros.
Então, já não mais sentada, eu pesco tudo o que, dentro das minhas capacidades, considero útil para a tal viagem além limbo. Começo a jornada e, como é praxe, não a termino antes da próxima aula. Frustrada mas confiante no entendimento do que vi até então, sento no mesmo lugar, com o desafio de acompanhar outra fala e preencher as lacunas da minha leitura a partir da minha astúcia e percepção - frenesi bastante útil para turbinar o café recém tomado.
Eis que, sentada no mesmo lugar onde massacrou nossa formação prévia ao seu encontro, a professora faz uma medíocre explicação dos seus horários corridos, retoma a folha que usou na aula passada e apresenta, mais uma vez, o plano do seminário, repetindo tudo o que disse até então. Bravo!
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